CONVERSA NO
QUINTAL Si deve
alle donne la salvaguardia dello storico "Ver-o-Peso"
traduzione
e adattamento di Dulce Rosa Rocque |
Questo è il racconto del sogno di una donna, realizzato con l'aiuto di tante altre donne.
|
por Clemilde Castro
|
Esta è a história do sonho de uma mulher, realizado com a ajuda de tantas outras mulheres
Introdução O
complexo do “Ver-o-Peso”, maior atração turística de Belém,
conhecida nacional e internacionalmente, é a imagem símbolo de Belém.
Segundo dados do Departamento Histórico de Belém o Ver-O-Peso ganhou
este nome a partir de 1688 (vale lembrar que Belém foi fundada em 12 de
janeiro de 1616) quando deixou de ser o PORTO DO PIRÍ
uma espécie de cais rudimentar, onde chegavam
e partiam os barcos que
vinham das ilhas com gente e
mercadorias , para se transformar em posto de controle fiscal , oficial do Estado. Dentre
as personalidades que desembarcaram ali, podemos citar o padre jesuíta
Samuel Fritz autor de uma
importante carta geográfica da Amazônia , o cientista Charles Marie de
La Condaime, para, em 1749 fazer as 1as. Medições da circunferência
terrestre. Por aqui também chegaram as primeiras mudas de café, vindas
de Cayena, que depois foram enriquecer São Paulo, visto que a terra do
Pará não era boa. No
final do século XIX , o espaço foi transformado com o aterramento da
margem que dava para a baía do Guajará
e os trapiches de madeira deram lugar ás docas de pedra de Lioz- (
que vinham de Portugal apenas servindo de lastro para os navios que depois
retornavam a Portugal levando nosso ouro...). O
“Ver-O-Peso” faz parte dos momentos históricos da cidade. Foi
ali, que os “cabanos” aportaram antes de cruzar o caminho até o
palácio, para assassinar o governador Lobo de Souza e tomar o
poder. oi dali também que se exportaram os primeiros carregamentos de
borracha da Amazônia, que mudariam, em plena revolução industrial, a
indústria de pneumáticos. Foi exatamente a borracha, na sua fase áurea,
o elemento que permitiu a mudança desseaço, com a construção do
“Mercado de Ferro”, pré fabricado na Inglaterra, no início do século
XX e que abriga até hoje a venda de peixe. Dessa
época para cá, o espaço ganhou a agitação característica de mercado
–com muita área de feirantes ao ar livre – mais as lojinhas, barracas,
ambulantes, etc. Com o passar do tempo , o empobrecimento da população e
o descaso das autoridades e da própria população, o
Ver-O-Peso, entrou em um enorme estado de decadência e abandono.
No rio, a população e os próprios feirantes jogavam tudo o que não
queriam: de cadeiras, panelas, vidros, plásticos...até os maridos ou as
mulheres. A parte nobre do “cais” estava ocupada por barcos inservíveis
para a navegação, mas que serviam de ninhos de ratos, cobras ,
traficantes e motéis de prostituição, tudo na maior imundície. O lixo
e o mau-cheiro eram uma constante. E os urubús faziam a festa... Por
sua importância histórica, cultural, e emocional /afetiva não podíamos
conviver com tamanho descaso e abandono. Incomodava ver o “Ver-O-Peso” tão castigado. Artigos nos jornais,
reportagens, falar com as autoridades “competentes “de nada adiantava...Quando
recebia amigos de fora que logo me pediam para conhecer o famoso
“Ver-O-Peso” , ficava com o coração “apertado”, e ia ver no
jornal o movimento das marés, para só leva-losquando a maré estivesse
alta, pois pelo menos a visão e o cheiro não seriam tão chocantes...mas
mesmo assim chocavam.
A
associação de mulheres de negocios A
Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais de Belém foi
oficializada em 08 de agosto de 1994 e é afiliada a Internacional
Federation of Business and Professional Women (IFBPW), através da
Federação de Mulheres de Negócios e Profissionais do Brasil (FBPW-Brasil).
E’ uma organização não governamental- ONG- de âmbito mundial desde
1930, que se estabeleceu no Brasil em 1975, no início da década da
mulher. As BPW trabalham para promover a plena participação da mulher
em todos os aspectos do
desenvolvimento, através de pesquisas de interesses, cursos, intercâmbios
de informações, treinamentos, etc Em
1995 filiei-me a Associação e desde então procurei uma maneira de obter a adesão das outras mulheres ao meu
projeto- muito simples no papel, mas enorme na ação e na vontade. Foi
porém um homem, Capitão Guedes, a dar o primeiro apoio ao projeto. Ele,
recém transferido à Belém, para o 2o. BIS (Batalhão de
Infantaria de Selva) disse-me com toda a franqueza, que foi sua maior
decepção ao chegar a Belém, ver o abandono e decadência.da area do
mercado e que se oferecia como voluntário assim como seus soldados. Nesse
mesmo dia traçamos as estratégias para um mutirão e me animei a falar
com a então presidente Maria Lúcia Penedo que mostrou-se impressionada
com a “audácia” da idéia e me convidou para uma reunião de
diretoria, para expor o meu projeto. Não
sei se foi a minha animação , ou a sorte que sempre me acompanha que fez
com que a diretoria, mesmo sem saber direito “o que e como seria” ,
aceitasse a idéia e me desse amplos poderes para agir, usando o nome da
Associação. Foram as 2
semanas mais excitantes, trabalhosas, estressantes, porém altamente
gratificantes e que me deram um aprendizado que em escola nenhuma -a não
ser a da vida, da vivência,- eu poderia ter. Contamos com a adesão de inúmeras
entidades e pessoas, desde a esfera federal, estadual e algumas
municipais- infelizmente não todas. O então Prefeito , já
quase no fim do seu mandato e os secretários que mais poderiam- e
deveriam ajudar- nem ao menos nos receberam, tendo inicio aí um ridículo
“jogo-de-empurra”. Não desanimamos, a idéia não tinha volta. O
nosso grito de pedido de socorro para o Ver-O-Peso, já estava nas ruas ;
a vontade de fazer alguma coisa para mudar aquele local, não só a parte
física, crescia sem a ajuda das autoridades. Além de tudo, os cerca de
4000 feirantes, legais, cadastrados ou não, mas que dali tiravam a sua
sobrevivência e a de suas famílias mereciam, assim como todos os
paraenses um lugar mais higiênico, digno e limpo , que não nos trouxesse
vergonha. A 1a. reunião com os “parceiros” que tinham adotado o projeto MUTIRÃO DE LAVAGEM DO VER-O-PESO –“Higiene é Saúde”- “carro chefe” do projeto “BELÉM MEU BEM, foi em 13 de janeiro, na minha casa. O rojão começava. A
preparação Quando tivemos a ideia de um grande mutirão de limpeza do Ver-o-Peso, o nosso objetivo era a retirada do lixo superficial do rio que estava há anos sem ser removido. Visto o total disinteresse das autoridades competentes, pensamos utilizar os próprios usuários do local, visando a conscientização dos mesmos e também a melhoria do mercado. Com esse trabalho, queríamos que os próprios vendedores, ambulantes, barqueiros, compreendessem, não só a importância histórica, turística e cultural para a nossa cidade, mas também que a manutenção dessa limpeza, em ultima analise, traria benefícios para os seus negócios e sua saúde. Com esse projeto também queríamos chamar a atenção das autoridades competentes para o estado de abandono e degradação – não só do espaço físico, mas também de costumes – que se encontrava o mercado. Para convencer os “protagonistas” a aderir ao projeto usamos a arma da troca. Cada saco de lixo seria trocado com uma senha de cartão de 5 diferentes côres que dariam direito a: corte de cabelo, gêneros alimentícios, sopa, copo de leite e pão, kit de artigos de higiene e limpeza. A propaganda foi feita quase de boca em boca por uma equipe de voluntários de diversas entidades que se juntaram a nós, dias antes. Precisavamos procurar as doações e para isso serviam os amigos. Cada mulher procurava entre os próprios conhecidos, quem tinha condições de doar: sacos para o lixo, luvas, pás, etc. ou seja, tudo o que seria necessário para fazer a limpeza e também para a troca. Um comerciante emprestou um pequeno carro-som, outro se ofereceu para fazer o locutor-animador; um grupo preparava i kit de lanches para o pessoal que ia trabalhar conosco na organização. O SESI (Serviço Social da Indústria), a Polícia Militar, os Bombeiros, o 2°BIS (Batalhão de Infantaria da Selva), se agregaram a tantos outros amigos; o grupo de voluntários crescia. Em menos de 15 dias estava tudo planejado e pronto para a execução. Tinhamos 500 voluntários à disposição. Naqueles 15 dias não consegui dormir, uma adrenalina só, muito a fazer e tanto entusiasmo. A vontade de ver o resultado do nosso desafio era o que nos levava para a frente.
O
evento Escolhemos o dia 28 de janeiro porque era o encerramento do mês de aniversário de Belém, e a maré baixa era de manhã, quando todo o lixo estava bem visível e podia ser retirado com mais facilidade. Televisão e radio estariam presentes para dar cobertura ao nosso trabalho. Os jornalistas, incrédulos, perguntavam se tinhamos certeza que os “potagonistas” iriam descer no “lixão” e retirar com as mãos aquela imundice toda. Nós acreditavamos de sim, que tudo ia dar certo. Tinhamos tentado conseguir pás, enxadas ou qualquer coisa desse tipo, mas não conseguimos; no ultimo momento chegaram as luvas descartáveis, foi o máximo que conseguimos, mérito do SESI. O dia marcado chegou: as 6 horas da manhã os “protagonistas” e as “guerreiras” chegaram no local e o encontramos parcialmente ocupado. As autoridades que nos tinham ignorado, tinham decidido, talvez tentando impedir a realização do mutirão, interditar parte da área para atracar um terminal pesqueiro, obra faraônica que custou á cidade um preço altissimo, enriqueceu muita gente e até hoje não serviu absolutamente para nada. Ainda bem que a Policia Militar e o Capitão do 2° BIS resolveram o problema e as 8 horas em ponto, do barco que ancorado no píer dirigia os trabalhos, ouvimos sob forte emoção, a banda dos Bombeiros executar o Hino Nacional e o Hino do Pará. Começou a distribuição dos sacos de lixo ao enorme público presente que não viam a hora de começar a trabalhar e ganhar com a troca. E a troca começou. Os sacos cheios passavam por um corredor humano e eram colocados em caminhões, alguns da Prefeitura e outros de empresas de amigos; uma vez cheios, eles seguiam para o depósito, esvaziavam e tornavam correndo para recomeçar tudo de novo. Em mais ou menos 4 horas de um trabalho impressionante, foram retirados, com as mãos, cerca de 70 toneladas de sujeira. Enquanto os “protagonistas” trabalhavam, a musica tocava e Arnaldo, animava o povo de dentro de um carro-som, com paródias, slogans, piadas. Aí vinham os problemas: os kits mais disputados – os de alimentos e artigos de limpeza – ja haviam se esgotado, o que podiamos oferecer… cortes de cabelo. Chegavam, porém, os “protagonistas” a lamentar-se que ja tinham dez cortes de cabelos e nós não tinhamos mais nada para dar; sugeriamos de chamar os amigos, a familia para aproveitar a ocasião e …cortar o cabelo. Ao meio-dia, já esgotados os kit de troca, as cabeleireiras com as mãos cheias de calos e a maré cheia, com os apetrechos dos bombeiros, destruimos os barcos que estavam há anos ancorados ali e eram ponto de distribuição de drogas e de prostituição infantil. Do outro lado a Policia Militar, sem percebermos, fazia outro tipo de trabalho: prendia delinquentes e apreendia mercadoria podre. Começamos a lavagem das calçadas do píer; distribuimos rápidamente 100 vassouras, desinfetante e sabão e, ao som de “carimbó” os protagonistas terminaram a limpeza do mercado, no lugar de quem nunca o tinha feito. Nos demos então as mãos e num grande abraço, festejamos o resultado da nossa proposta; ao som de “Como é grande o meu amor por você” demos vazão a nossa alegria. Missão cumprida, abraços e agradecimentos a quem tinha acreditado naquele sonho. A Associação de Mulheres tinha obtido uma vitória. Este ano ja fizemos o 7° Mutirão de Lavagem do Ver-o-Peso e notamos que o estão reconstruindo. Paralelamente, associações e comunidades estão trabalhando em outros campos: vimos nascer um grupo de dança “Carimbó das Cheirosas” e um de musica “Pagode do Ver-o-Peso”. Hoje a Lavagem do nosso Mercado ja entrou para o calendário oficial de eventos de Belém. Quando alguém me pergunta se vale a pena acabar num hospital por ter feito o trabalho dos outros, de autoridades incompetentes, me lembro de Fernando Pessoa “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
|