La delicata malinconia di Adriana 

 Alcuni significativi testi della cantautrice di Porto Alegre

 

 

traduzione di Bruno Persico

 

 

   I testi di questo mese sono dedicati a Adriana Calcanhotto, una cantautrice che solo da poco si è fatta conoscere in Brasile al grande pubblico per ispirazione musicale e delicata malinconia di alcuni suoi testi. Ha iniziato la sua carriera nei locali notturni di Porto Alegre, dove è nata, e alla fine degli anni '80 si è trasferita a Rio de Janeiro dove ha registrato il suo primo disco, "Enguiço", nel 1990. Dopo un album passato sotto silenzio ("Senhas") e un altro uscito nel '94 ("A Fabrica do Poema") che vantava collaborazioni da parte di Arnaldo Antunes, Antônio Cícero e Jorge Salomão, è approdata, nel 1998, a "Maritimo", suo primo grande successo. Nel 2000 lancia il suo primo disco dal vivo, "Publico", che la consacra presso il grande pubblico. 

 

        

 

 

Esquadros
(Adriana Calcanhotto)

Eu ando pelo mundo prestando atenção Em cores que eu não sei o nome 
Cores de Almodóvar 
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome dos meninos que têm fome

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela? Quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde
Transito entre dois lados, de um lado
Eu gosto de opostos
Expondo meu modo, me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado.

Squadre


Vado per il mondo prestando attenzione
Ai colori di cui non conosco il nome,
Colori di Almodóvar, Colori di Frida Kahlo, colori.
Mi muovo nelle zone oscure
E faccio attenzione a ciò che mio fratello ascolta
E come una seconda pelle, un callo, una buccia,
Una capsula protettrice
Voglio arrivare prima
Per segnalare lo stato di ogni cosa
Filtrare i suoi gradi.
Vado per il mondo divertendo gli altri,
Piangendo al telefono
E vedendo come duole la fame dei bambini che hanno fame

Dalla finestra della stanza
Dalla finestra dell'auto
Dalla TV, dalla finestra
(Lei chi è? Lei chi è?)
Vedo tutto inquadrato,
Telecomando...

Vado per il mondo
E le automobili corrono perché?
I bambini corrono verso dove?
Transito tra due lati, da un lato,
Mi piacciono gli opposti,
Mostrando il mio modo, mi rivelo
E canto, per chi?
Vado per il mondo, e i miei amici, dove sono?
La mia allegria, la mia stanchezza?
Amore mio, dove sei?
Mi sono svegliata,
E non c'è nessuno accanto a me.

 

 

A Fábrica do Poema 
(Adriana Calcanhotto e Waly Salomão)

Sonho o poema de arquitetura ideal 
Cuja própria nata de cimento
Encaixa palavra por palavra, 
Tornei-me perito em extrair 
Faíscas das britas e leite das pedras 
Acordo 
E o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo Acordo 
O prédio, pedra e cal, esvoaça 
Como um leve papel solto à mercê do vento e evola-se 
De cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido 
Acordo, e o poema-miragem se desfaz Desconstruído como se nunca houvera sido Acordo!
Os olhos chumbados pelo mingau das almas e os ouvidos moucos 
Assim é que saio dos sucessivos sonos 
Vão-se os anéis de fumo de ópio 
E ficam-me os dedos estarrecidos 
Metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros sumidos no sorvedouro 
Não deve adiantar grande coisa permanecer à espreita do topo fantasma da torre de vigia Nem dormir deveras 
Pois a questão chave é: 
Sob que máscara retornará o recalcado?

La Fabbrica del Poema


Sogno il poema dall'architettura ideale
Con la cui crema di cemento
Vengano incastonate parole su parole
Sono diventato esperto nell'estrarre
Scintille dai sassi e latte dalle pietre
Mi sveglio
E il poema intero si sfalda, filo dopo filo,
Mi sveglio
L'edificio, pietra e calce, svolazza
Come un lieve foglio di carta alla mercé del vento
E si riduce 
In cenere, di un corpo privato di ogni senso.
Mi sveglio, e il poema-miraggio si dissolve
Disgregato come se non fosse mai esistito
Mi sveglio!
Gli occhi tappati dalla poltiglia dell'anima
E le orecchie sorde
E' così che esco dai sonni che seguono,
Se ne vanno gli anelli di fumo dell'oppio
E mi restano le dita terrorizzate
Metonimie, allitterazioni, metafore, ossimori
Scomparsi nel turbine.
Non deve servire a molto restare ad osservare
Il topo fantasma dalla torre di guardia,
Né dormire sul serio.
Visto che la questione chiave è:
Sotto quale maschera ritornerà ciò che la mente ha rimosso?

Metade 
(Adriana Calcanhotto)

Eu perco o chão 
Eu não acho as palavras 
Eu ando tão triste 
Eu ando pela sala 
Eu perco a hora 
Eu chego no fim 
Eu deixo a porta aberta 
Eu não mora mais em mim 
Eu perco as chaves de casa 
Eu perco o freio 
Estou em milhares de cacos 
Eu estou ao meio 
Onde será que você está agora?

 

Metà


Perdo il terreno sotto i piedi
Non trovo le parole
Mi sento tanto triste
Vago per le stanze
Perdo il senso del tempo
Giungo alla fine
Lascio la porta aperta
Non abito più in me
Perdo le chiavi di casa
Perdo ogni freno
Sono in mille frammenti
Sono a metà
Dove sei, in questo momento?

Minha Música
(Adriana Calcanhotto)

Minha música não quer ser útil 
Não quer ser moda 
Não quer estar certa 
Minha música não quer ser bela 
Não quer ser má 
Minha música não quer nascer pronta 
Minha música não quer redimir mágoas 
Nem dividir águas 
Não quer traduzir 
Não quer protestar 
Minha música não quer me pertencer 
Não quer ser sucesso 
Não quer ser reflexo 
Não quer revelar nada 
Minha música não quer ser sujeito 
Não quer ser história 
Não quer ser resposta 
Não quer perguntar 
Minha música quer estar além do gosto 
Não quer ter rosto, não quer ser cultura 
Minha música quer ser de categoria nenhuma Minha música quer só ser música 
Minha música não quer pouco 

La mia musica


La mia musica non vuol essere utile
Non vuol essere moda
Non vuol essere vera
La mia musica non vuol essere bella
Non vuol essere brutta
La mia musica non vuol nascere già pronta
La mia musica non vuol redimere dolori
O dividere acque
Non vuole tradurre
Non vuole protestare
La mia musica non vuole appartenermi
Non vuol essere un successo
Non vuol essere un riflesso
Non vuol rivelare alcunché
La mia musica non vuol essere un soggetto
Non vuol essere storia
Non vuol essere risposta
Non vuole far domande
La mia musica vuole stare al di là dei gusti
Non vuol avere un volto, non vuol essere cultura
La mia musica non vuol rientrare in alcuna categoria
La mia musica vuole solo essere musica
La mia musica non chiede poco. 

 

 

Vamos Comer Caetano
(Adriana Calcanhotto) 

Vamos comer Caetano 
Vamos desfrutá-lo 
Vamos comer Caetano 
Vamos começá-lo 
Vamos comer Caetano 
Vamos devorá-lo 
Degluti-lo, mastigá-lo 
Vamos lamber a língua 
Nós queremos bacalhau 
A gente quer sardinha 
O homem do pau-brasil 
O homem da Paulinha 
Pelado por bacantes 
Num espetáculo 
Banquete-ê-mo-nos 
Ordem e orgia 
Na super bacanal 
Carne e carnaval 
Pelo óbvio 
Pelo incesto 
Vamos comer Caetano 
Pela frente 
Pelo verso 
Vamos comê-lo cru 
Vamos comer Caetano 
Vamos começá-lo 
Vamos comer Caetano 
Vamos revelarmo-nos 

Mangiamoci Caetano


Mangiamoci Caetano
Sfruttiamolo
Mangiamoci Caetano
Iniziamolo
Mangiamoci Caetano
Divoriamolo
Deglutiamolo, mastichiamolo
Lecchiamoci la lingua
Vogliamo del baccalà
Vogliamo sardine
L'uomo dell' "Albero Brasile"
L'uomo di Paulinha
Messo a nudo dalle baccanti
In uno spettacolo
Banchettiamoci
Ordine e orgia
In un'enorme baccanale
Carne e carnevale
Per l'ovvio
Per l'incesto
Mangiamoci Caetano
Sulla fronte
Sul verso
Mangiamolo crudo
Mangiamoci Caetano
Iniziamolo
Mangiamoci Caetano
Riveliamoci.

Negros 
(Adriana Calcanhotto)

O sol desbota as cores
O sol dá cor aos negros
O sol bate nos cheiros
O sol faz se deslocarem as sombras
A chuva cai sobre os telhados
Sobre as telhas
E dá sentido as goteiras
A chuva faz viverem as poças
E os negros recolhem as roupas
A música dos brancos é negra
A pele dos negros é negra
Os dentes dos negros são brancos
Os brancos são só brancos
Os negros são retintos
Os brancos têm culpa e castigo
E os negros têm os santos
Os negros na cozinha
Os brancos na sala
A valsa na camarinha
A salsa na senzala
A música dos brancos é negra
A pele dos negros é negra
Os dentes dos negros são brancos
Os brancos são só brancos
Os negros são azuis
Os brancos ficam vermelhos
E os negros não
Os negros ficam brancos de medo
Os negros são só negros
Os brancos são troianos
Os negros não são gregos
Os negros não são brancos
Os olhos dos negros são negros
Os olhos dos brancos podem ser negros
Os olhos, os zíperes, os pêlos
Os brancos, os negros e o desejo
A música dos brancos é negra
A pele dos negros é negra
Os dentes dos negros são brancos
A música dos brancos
A música dos pretos
A música da fala
A dança das ancas
O andar das mulatas
"O essa dona caminhando"
A música dos brancos é negra
Os dentes dos negros são brancos
Lanço o meu olhar sobre o Brasil e não entendo nada

 

Neri


Il sole sbiadisce i colori
Il sole dà un colore ai neri
Il sole colpisce gli odori
Il sole fa muovere le ombre
La pioggia cade sopra i tetti
Sulle tegole
E dà un senso alle grondaie
La pioggia rende vive le pozzanghere
E i neri raccolgono i vestiti
La musica dei bianchi è nera
La pelle dei neri è nera
I denti dei neri sono bianchi
I bianchi sono solo bianchi
I neri sono dipinti
I bianchi hanno colpa e castigo
E i neri hanno i santi
I neri in cucina
I bianchi in soggiorno
Il valzer sulla veranda
La salsa nelle capanne degli schiavi
La musica dei bianchi e nera
La pelle dei neri è nera
I denti dei neri sono bianchiI bianchi sono solo bianchi
I neri sono blu
I bianchi diventano rossi
Ma i neri no
I neri diventano bianchi di paura
I neri sono solo neri
I bianchi sono troiani
I neri non sono greci
I neri non sono bianchi
Gli occhi dei neri sono neri
Gli occhi dei bianchi possono essere neri
Gli occhi, le chiusure lampo, i peli
I bianchi, i neri e il desiderio
La musica dei bianchi è nera
La pelle dei neri è nera
I denti dei neri sono bianchi
La musica dei bianchi
La musica dei neri
La musica delle parole
La danza dell'anca
L'incedere delle mulatte
"Oh, quella donna che cammina"
La musica dei bianchi e nera
I denti dei neri sono bianchi
Dirigo il mio sguardo sul Brasile, e non capisco niente